Os financimentos imobiliários concedidos a partir de recursos da poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) atingiram volume recorde no primeiro semestre deste ano, sendo que o índice de inadimplência caiu levemente ante o final do ano passado.
O cenário é positivo, mas o descompasso entre o crescimento dos recursos da poupança, principal funding do crédito imobiliário, e volume de concessões pode prejudicar o futuro do setor. Atenta a isso, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) entregará até o fim de agosto uma minuta ao Banco Central para viabilizar os "covered bonds", uma das alternativas de financiamento ao setor.
No primeiro semestre desse ano a concessão de financiamento imobiliário totalizou R$ 49,9 bilhões, crescimento de 38% ante igual período do ano passado, sendo 74,1% do volume originário da poupança e 25,9% do FGTS. Em número de unidades financiadas, o crescimento foi de 30%, para 645 mil.
No mesmo período, a captação líquida (entrada menos saída de recursos) da poupança foi negativa em R$ 173 milhões.
Segundo o presidente da Abecip, Luiz Antônio França, esse descompasso entre crescimento da poupança e avanço na concessão de financiamentos mostra a necessidade de alternativas de funding do setor à longo prazo, já que se espera um esgotamento do financiamento pela poupança já em 2013.
Os covered bonds, espécie de CDB (Certificado de Depósito Bancário) imobiliário amplamente utilizados na Europa, são uma das alternativas mais discutidas pelo setor atualmente, mas ainda não são negociados no Brasil.
"Há um envolvimento geral do setor para que os covered bonds sejam regulamentados", disse França esta manhã em evento em São Paulo. A previsão é que esses papéis movimentem 170 bilhões de euros no mercado global este ano.
Em junho, a captação líquida da poupança foi de R$ 1,191 bilhão, após dois meses de captação negativa. Ainda assim, o volume é inferior à captação do mesmo mês de 2010, que foi de R$ 3,580 bilhões.
Já o saldo bruto da poupança em junho subiu 15% na comparação anual, para R$ 309,9 bilhões, ritmo mais lento do que o crescimento entre junho de 2009 e 2010, de 20%.
A entidade prevê que, até o final de 2011, a poupança seja responsável por R$ 85 bilhões em financiamentos imobiliários no país e com perspectiva de alta, já que o segundo semestre é uma época reconhecidamente de mais negócios.
Inadimplência
O índice de inadimplência ao se analisar somente financiamentos decorrentes da poupança, que consideram alienação fiduciária, ficou levemente menor no final do primeiro semestre deste ano (1,15%) ante o registrado no fim de 2010 (1,20%).
Os números do semestre também mostraram que os brasileiros têm recorrido aos financiamentos para dar entradas cada vez menores na hora de assinar um contrato. Até o meio deste ano, a proporção do total do valor do imóvel que foi financiado ficou em 62,7%, levemente superior à proporção registrada no final de 2010, de 62%, mas bem acima daquela de 2005, quando os financiamentos pagavam, em média, em 47,8% do valor dos imovéis.
"Fica claro que os brasileiros têm confiado mais nos financiamentos, ao se perceber que as pessoas tem dado entradas com valores cada vez menores" disse França.