O síndico do condomínio Poema Granja Julieta, Haroldo Silva, de 41 anos, vive um ano agitado por causa de reformas feitas por moradores. Em maio, um dos condôminos resolveu instalar piso de madeira na sua unidade. Ele contratou uma empresa, mas apesar disso, um dos trabalhadores, ao fixar o piso, acabou perfurando a prumada hidráulica. "Isso resultou uma infiltração no apartamento de baixo e prejudicou a torre inteira, pois a água teve de ser desligada para realização dos concertos", conta Silva. Segundo o síndico, o morador teve que pagar por todos os consertos e, posteriormente, teve que reclamar com a empresa pelos prejuízos.
Na semana passada, em outra das quatro torres que fazem parte do condomínio - que totaliza 368 apartamentos - um morador resolveu trocar a sua pia. Na mudança uma parte da fiação elétrica foi cortada, causando um curto circuito. "Isso acabou interferindo na iluminação do hall de entrada. Até hoje, parte das luzes do espaço ainda não funciona", diz ele.
"Eu propus a criação da cartilha ao constatar a quantidade de leigos que fazem a reforma em condomínios. Isso sempre é um risco, mas no caso dos verticais é mais perigoso por causa de elementos comuns, como canos e fios passando pelas unidades ", diz a arquiteta Denise Guarezzi, coordenadora do grupo do Crea que desenvolveu o texto.
Junto com ela, outros seis profissionais ligados ao conselho participaram da iniciativa, que começou em maio do ano passado. "Na rua é mais fácil de a prefeitura e Crea fiscalizarem. Porém nos condomínios é mais difícil de saber o que acontece. A maneira de prevenir acidentes neles é contar com a ajuda dos síndicos", afirma Denise.
A arquiteta lembra que são os síndicos que devem ficar atentos, pois a responsabilidade civil e criminal pode recair sobre eles em casos de incidentes. "Quando uma empresa ou profissional com registro no Crea emite uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) a responsabilidade é transferida", explica.
Toda a preocupação levanta a questão: quando o técnico é preciso? "Para um leigo pode parecer que a troca de um piso é simples e não precisa de supervisão técnica. Mas o que se desconhece é que existem questões de impermeabilização e nivelamento, entre outros fatores", diz a arquiteta. O engenheiro civil e diretor da Daniel e Figueiredo Consultores Associados, Flávio de Figueiredo, concorda. Com experiência de 30 anos fazendo perícias, já viu muitos absurdos.
"As pessoas acham que reforma é brincadeira e raramente usam um especialista. Eu sou chamado quando a besteira está feita e aconselho: se o serviço for mais amplo que um reparo, procure pessoas habilitadas", indica Figueiredo.
Outra item que muito leigos não sabem é que a forma como o prédio foi construído pode tornar perigosa uma reforma. "Tivemos um caso muito grave em um dos nossos condomínios. O edifício era construído em alvenaria estrutural e um morador resolveu derrubar uma parede. O que ele não sabia é que neste tipo de construção, a divisória serve como uma viga", conta a gerente de relacionamento da Lello Condomínios. Márcia Romão. Isso preocupou a construtora, que ameaçou suspender a garantia do prédio inteiro, prejudicando todos os moradores. "No final, a construtora reconstruiu a parede para garantir a segurança."
Apesar da segurança que traz à obra, o preço é, em geral, a maior questão para a não contratação de um técnico. "Ter um profissional supervisionando a reforma encarece em média 5% o custo final", diz o diretor técnico do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo,José Antonio da Silva Quaresma.
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